O imediatismo do mundo moderno, essa merda está acabando com a minha vida. – Pensou ela ao olhar a tela celular mais uma vez. Enviado, recebido, visualizado, ignorado. Aqueles malditos sinais azuis. Tentou lembrar de como eram seus relacionamentos anteriores a era da comunicação instantânea. Nunca havia se preocupado com a demora das respostas via sms ou sequer com a falta de ligações telefônicas. Ficava dias sem ligar pra o, até então, rolo que tinha e isso não importava. Agora, cada vez que a luz da tela iluminava o quarto, corria para verificar. Era um sentimento diferente, mais forte? Não. Tinha regredido à adolescência? Também não. Então porque? Pressa. Serviu uma taça de vinho e foi até a varanda, pensou em acender um cigarro, mas era tanto sobre a nicotina quanto sobre insegurança. Era pela respiração. Pelo simples inspirar e expirar ritmado. Azar, procurou o isqueiro na bancada e inspirou lentamente sentindo a fumaça preencher os pulmões, segurou a respiração e expirou devagar apreciando cada segundo da tragada. Porque ele estava demorando tanto para responder? Era sim ou não.
Pensou na conversa que tiveram naquela noite, 28 dias atrás. E riu. Só fazem 28 dias? Como chegou nesse ponto tão rápido? Conseguia ver como se fosse hoje o olhar dele destacado no grupo, algo que brilhava com voracidade, mas cuidadosamente contido em uma máscara de cavalheirismo. Adoraria vê-lo perder esse controle todo. Compartilhava da ânsia dele, do desejo latente pela novidade e por mais que tivesse tentado fugir, convergia para ele sem notar. Relembrava momentos, relia as centenas de mensagens trocadas, no desespero por um encontro que nunca vinha e tentava entender o que se passava naquele turbilhão. Era ansiedade, decepção, frustração ego, mas, percebeu com alívio, que não era amor. Pensou em quantas vezes calculou com cuidado o que dizia para que não houvesse dúvidas quanto às suas nada nobres intenções. “Visto por último às 01:08”. Pensou se algo tinha mudado no meio do caminho, e porque sentia falta das confidências que faziam na madrugada. Preocupou-se tanto em não magoá-lo que nem percebeu o quanto se envolvera, nem imaginou que quem seria ignorada e machucada seria ela.
Foi a madrugada, é sempre ela quem confunde as coisas – disse ela quando assumiram que era mais do que amizade, mergulhavam em culpa por querer algo que não podiam fazer, tentando descobrir quando ou onde havia começado, mas nem isso conseguiram definir. Conheciam-se havia dois anos e nunca tinham pensado um no outro de uma maneira romântica. Tinha acontecido tão de repente, que ela comparava essa confusão a um chute no estômago, forte, dolorido e que tinha deixado ela sem ar. Eram atraídos um para o outro com uma força quase gravitacional e durante aqueles dias não conseguiram ficar fisicamente afastados, algo que ela notou ao ver as fotos depois. A culpa é da Cris – disse ele olhando para as estrelas – que mandou mensagem para nós dois pedindo para que um cuidasse do outro. Tudo culpa dela – concordou.- Mas acho que não era bem esse tipo de cuidado que ela quis dizer. Sentiu o calor do corpo, tão próximo dela e a brisa que trazia o perfume dele na sua direção. Quis beijá-lo ali mesmo, sem importar se alguém iria vê-los, ou que ele a arrastasse para longe dali, mas ele também não o fez. Estremeceu com esse pensamento e ele perguntou se estava com frio. Fez que não com a cabeça mas achou melhor não explicar. Acho que ela gostaria da ideia da gente junto, a Cris. – Disse num tom deliberadamente casual. Eu acho que não – rebateu ela. – Ela me odiaria por saber que essa história tem tudo pra dar errado e o quanto eu posso te fazer sofrer.
Nas primeiros dias após voltarem pra casa falavam-se durante o dia todo, ele dizia que estava cada mais mais difícil ficar longe dela e ela tentou afastá-lo. Pessoas intensas tendiam a ser muito volúveis, mas mesmo assim, quando ele disse que preferia não tê-la por completo a perdê-la de vez, ela cedeu. No primeiro dia que não se falaram, algo parecia fora do lugar. Nos dias seguintes os contatos ficaram mais esparsos e ela começou a ficar nervosa. Olhou mais uma vez, a última mensagem que enviara – É só tu dizer que sim – mas nenhuma resposta veio, “visto por último às 01:55”, fazia trinta minutos. Nada. Inspira. Expira. Quem era essa pessoa que estava perturbada por trinta minutos sem resposta? Não era ela – pensou. Bom ele quem perde. – mentira, ele não está a fim. Aceita e segue. A tela se ilumina, mas é apenas uma colega de faculdade que pedia para enviar um artigo qualquer. Porque ele não respondia? Falara algo errado? Deixara de falar? Não se reconhecia naquele comportamento obsessivo. Essa não-relação estava despertando o que havia de pior nela. Descobriu surpresa que se ele estava bebendo com os amigos, trabalhando ou transando com alguém, ela não se importava. A incerteza é que a estava corroendo por dentro. É, deu tempo, não entendeu porque. Não precisava de adeus.